Na última semana, Juninho pouco apareceu em campo. Debilitado por uma gripe, sequer foi a São Januário na quinta e na sexta-feira, ficando fora da partida contra o Cruzeiro, no último sábado. Mas os dias não foram apenas de notícias ruins. Ele acertou a renovação de contrato, assinado na manhã desta segunda-feira. Aos 37 anos, o meio-campo sabe que vive os momentos finais da carreira e, por isso, prefere pensar a curto prazo. Mas nem tanto. Um dos destaques da equipe nas primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro, ele já pensa na próxima temporada.
Embora garanta ainda não ter decidido, Juninho diz estar inclinado a prolongar sua carreira por mais algum tempo. Segundo ele, o prazer de jogar futebol vence de goleada a insatisfação por viagens e períodos de concentração, que ele confessa não gostar nada. Com a experiência de quem já viveu quase tudo no futebol, o Reizinho tem a certeza de fazer parte de um elenco competitivo e que o ajudará a realizar o sonho de conquistar mais um título pelo Vasco nessa segunda passagem.
Em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, a primeira desde a renovação de contrato, ele foi enfático ao falar sobre alguns mitos do futebol, como a de que o talento é absoluto e da importância da união de um elenco.
- Esse negócio de união é conversa fiada.
GLOBOESPORTE.COM: Está satisfeito com a renovação de contrato até o fim do ano?
Juninho: A renovação era a tendência natural. O acerto poderia ter acontecido até antes, mas coincidiu com algumas questões que o Vasco precisava resolver, como a renovação do Fellipe Bastos e do Eder Luis. Essa era uma situação mais complicada, porque não eram atletas do clube. Mas sempre soube que resolveríamos tudo rapidamente. Minha intenção sempre foi ficar, e espero ajudar a equipe nesses próximos seis meses. Um vínculo com essa duração me deixa mais à vontade. Esse pode ser meu último contrato. Então, neste período espero fazer o melhor possível.
Você diz que esse pode ser seu último contrato com o Vasco ou o último contrato da carreira?
Podem ser as duas coisas. Não é que seja algo planejado. Ainda não decidi o que vou fazer. Se realmente for o último, quero encerrar com a certeza de que fiz o melhor. Mas hoje a tendência é seguir minha carreira ainda no ano que vem, mantendo um bom nível de atuação e bem fisicamente.
O vazamento dos números de seu contrato com o Vasco foram motivo de insatisfação sua. Neste novo acordo, você continua ganhando por jogos disputados e gols marcados. Enxerga como a melhor opção?
Nem gosto de falar muito sobre esse assunto, porque já passou. Mas o vazamento não deveria ter acontecido do jeito que foi. Fiquei chateado, não por causa do vazamento, pois isso acontece, mas porque divulgaram como se o contrato fosse benéfico apenas para mim. Na verdade, o risco foi apenas meu. A renovação foi feita nesses mesmos moldes, porque é algo com o qual me sinto mais confortável.
Você tem 37 anos e planeja continuar jogando no ano que vem. Qual o segredo da longevidade?
É um conjunto de fatores. Primeiro, me vejo como um privilegiado por ter uma condição física boa e nunca ter sofrido uma lesão grave. Além disso, acho que até os 30 anos o jogador planta, constrói a sua base. Sempre tive uma vida equlibrada e também gosto de treinar e de jogar. Gosto desse desafio de vencer. Sempre digo que não quero ser exemplo para ninguém, mas, para mim, o futebol sempre esteve em primeiro plano.
Você costuma ser apontado como caxias no que diz respeito à disciplina nos cuidados com o corpo. Como faz para manter a forma?
Faço trabalho com medicina ortomolecular e um tratamento de recuperação também fora do clube. Também cuido da alimentação, mas não é nada que me deixe maluco. O principal é estar em condição para o próximo jogo. Muitos jogadores gostam só de dinheiro, fama e conquistas. Por isso, têm dificuldades para construir uma carreira longa. Mas o futebol também exige sacrifícios, escolhas entre a vida social e a profissão. Aqui no Brasil muita gente acha o nosso futebol é o melhor, que a gente faz o certo e que o talento vai decidir no fim das contas. Mas após dez anos fora do Brasil, vi que não é bem assim. É preciso usar artifícios para estar sempre bem. Eu cuido da alimentação, valorizo os treinos e também penso quando é melhor dosá-los para guadar para o próximo jogo. Em oito anos na França, nunca fiz um rachão. Isso lá não existe, mas essa é a nossa cultura. Na Europa, há uma ideia de que dois dias antes da partida é preciso fazer um treino mais leve. Não sei quem está certo, eu quero é aprender. Por isso converso muito com os profissionais do Vasco, que são excelentes. E digo que o Brasil é avançado nesse aspecto. Os preparadores conseguem manter a forma dos atletas com muito menos tempo de preparação do que na Europa.
Como avaliou a reação do grupo do Vasco à eliminação nas quartas de final da
Libertadores? Qual sua expectativa em relação ao desempenho da equipe no Campeonato Brasileiro?
Nossa resposta à eliminação foi muito positiva, pois foi muito injusta a forma como saímos da competição. Assistindo aos jogos da semifinal, deu para ver que a sorte estava mesmo com o Corinthians. Ficou engasgado, também por causa daquele gol do Alecsandro que foi anulado no jogo de ida, em São Januário. Além disso, foi inacreditável ver o mesmo árbitro que apitou um dos nossos jogos contra o Corinthians participar da semifinal (Leandro Vuaden apitou o jogo de volta das quartas de final e da semifinal da Libertadores). Mas o Corinthians tem time para ser campeão da Libertadores. Nossa equipe cresceu muito ao longo da temporada e vem fazendo um início de Brasileiro promissor. Agora é manter os pés no chão, se estabilizar nesse nível e ficar com o alerta ligado para não haver acomodação. Vejo agora o time mais pronto.
E qual é sua expectativa em relação à sua atuação no Brasileiro depois de um início destacado?
Estou me preparando para jogar e jogar bem. Não gosto de jogar com o nome, não aceito jogar mal. Minha cobrança é para fazer o melhor sempre.
Vê a necessidade de reforços para a sequência da temporada?
Reforços são importantes, mas depende das peças. Se chegarem jogadores prontos para vestir a camisa e encarar a responsabilidade, tudo bem. Nós temos o Tenorio, que ainda vai precisar de um tempo para se recuperar totalmente e, quando isso acontecer, vai nos ajudar muito. Também vejo o Pipico fazendo bons treinos e torço para que ele aproveite a oportunidade quando ela surgir. Lamento pela saída do Allan, que vai fazer muita falta. Então, talvez falte alguém ali para ajudar o Fagner.
Desde que chegou, em junho do ano passado, você deixou claro que tinha o objetivo de não deixar o Vasco sem antes conquistar mais um título. Acredita que vai terminar 2012 com essa meta alcançada?
Não estou preocupado com isso agora. Quero fazer tudo aos poucos, no tempo certo, me preparando para estar bem e ajudar a equipe. Sonho ser campeão pelo Vasco mais uma vez, não é uma promessa. O Brasileiro é muito difícil, com várias equipes candidatas ao título. Meu único pensamento é me preparar para o próximo jogo.
Você nunca escondeu que a rotina de concentração e viagens é cansativa. Está preparado para mais uma maratona?
Concentração não é algo agradável para mim. Não vejo essa necessidade e em que vai me ajudar ficar dois dias num quarto de hotel antes de uma partida. Até porque em casa, antes de um jogo, mantenho a rotina da concentração. Mas é a nossa cultura. E também não é isso que vai me fazer parar agora. Por exemplo, vou ter a oportunidade de jogar duas vezes em Recife e espero conseguir. Tem esse lado. Além disso, neste ano não tem a Copa Sul-Americana, o que diminui muito o desgaste com jogos e viagens.
Você é muito identificado com o Vasco. Mas como foi se entrosar com o grupo desde a volta ao clube após dez anos de ausência?
Fiquei muito tempo fora. Então, quando cheguei, fui aos poucos me enturmando e mostrando que, independentemente da minha história, cheguei para ser mais um a ajudar o Vasco a ser campeão. Hoje, de uma forma geral estou muito entrosado e sou próximo da maioria. Por exemplo, costumo jogar cartas na concentração com Diego Souza, Carlos Alberto, Alecsandro e Rodolfo. Nós criamos uma relação mais próxima.
Muito se fala da união e do bom ambiente do grupo do Vasco. Qual a importância disso para os resultados no campo?
Esse negócio de união é conversa fiada. União de verdade é no campo, é você respeitar a camisa que veste, é quando seu companheiro de equipe perde uma bola e você dá a vida para fazer cobertura. O mais importante é o respeito entre os jogadores.